Sem saldo

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Texto de Danilo Lago

Dia de devolver os livros na Biblioteca Sérgio Buarque de Holanda. Lembrei em cima da hora. A biblioteca já ia fechar. Peguei O Paraíso é Bem Bacana do André Sant’Anna e o Lobo da Estepe do Hermann Hesse e saí vazado de casa. Embarquei no primeiro ônibus que passou. Tirei o bilhete único do bolso. O esfreguei na catraca. A luzinha vermelha acendeu. Sem saldo. Com cara de bobo, guardei o bilhete no bolso. Pedi pro motorista parar no próximo ponto. Ele perguntou pra onde eu ia. Pra biblioteca, devolver esses livros, respondi e mostrei. Daí ele perguntou se era aquela que ficava no centro de Itaquera. Eu respondi que sim, sempre pego livros na Buarque. Então, não esquenta não, fica aí, cê desce pela porta da frente, o Marcos me disse. E continuou: tô lendo uma antologia do Solano Trindade. Cê já leu alguma coisa dele?

SUGESTÕES PROCÊIS

  • Biblioteca Sérgio Buarque de Holanda. Rua Gregório Ramalho, 103. Itaquera. São Paulo. SP.

LIVROS

  • O Paraíso é Bem Bacana, André Sant’Anna, Companhia das Letras. Esse livro é foda. Sabe aquele lance que a gente escuta em palestras e oficinas sobre como escrever bem? Então, o André faz exatamente o contrário. Bagulho é escrito no osso. Baita trampo com a linguagem. Escreve sem algemas no pulso. Numa história improvável sobre um anti-herói chamado Muhammad Mané. Futebol, intolerância religiosa, pobreza, xenofobia, terrorismo, são alguns assuntos que aparecem no romance. Vale gastar a vista.
  • O Lobo da Estepe, Hermann Hesse, Record. Recolhi depoimentos curtos de pessoas que já leram esse livro pra não ficar aquela coisa de só eu falo. Maria Karina: “Honestamente não sei dizer o que achei. Foi um livro pra sentir bastante, respirar pouco, mas que eu precisava.” Amanda Brito: “Para cada página que escrevo, um eu diferente. Selvagens. Apenas à espera de alguém que as leiam.”
  • Poemas Antológicos de Solano Trindade, Nova Alexandria. Emprestei esse hoje da biblioteca. Indicação do Marcos. Do pouco que li, gostei. Na apresentação do livro, Zenir Campos Reis nos fala algo que resolvi compartilhar: “a poesia de Solano Trindade foi escrita para ser declamada, e não para a leitura silenciosa. Ela carece do suporte da voz e do gesto, da expressão corporal. É poesia destinada ao espaço público – a tribuna e o palco. Diferente da poesia que se lê apenas com os olhos, na intimidade da casa. A maior parte da sua poesia abraça causas públicas, a justiça social, a defesa das camadas oprimidas da sociedade, especialmente a dos negros. Nasce da vivência das causas do povo miúdo e da experiência da cultura popular, falada, cantada e dançada.”

Danilo Lago é aspirante na teologia e pescador na literatura. Sabe que é mais fácil começar uma briga do que um texto.

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